quinta-feira, 5 de maio de 2011

POEMAS E POESIAS: POR MÁRCIO COSTA.


DOMINGO

Hoje é dia de não ter nada pra fazer,
estou sentado num canto do meu quarto
ouvindo uma canção que diz:
"eu não sei dizer adeus, eu não sei lhe amar".
Eu digo que não tenho nada pra dizer,
lá fora estão as dezenas de bares
para oferecer a realidade paralela
e entreter o dia daqueles
que estão no seu único dia sem trabalho,
mas, não sabem fazer nada além do seu trabalho.
Esses ruídos da rua são estranhos aos meus ouvidos.
Acho que não sou daqui...
Estranho não ter nada para fazer,
assim vou procurando o que fazer,
mas, nada satisfaz.
Inclusive o que escrevo também não satisfaz
minha necessidade de dizer o que sinto.
Protejo-me sob Drummond em razão
da minha falta de talento para métrica e rima.
O modernismo mais uma vez socorre-me
e mais uma vez o meu poema
que era pra ser de domingo
em razão da minha falta de talento
e de não saber como dizer o que quero dizer
terminou como uma nota
não de domingo, mas de um dia qualquer.


AQUELES OLHOS...

Descansar embaixo de uma árvore,
uma beira de estrada qualquer,
meus sonhos seguiram sozinhos,
perderam-se em redemoinhos
por entre florestas de vento.

Descansar ao lado de um sonho,
aqueles olhos não eram tão perfeitos,
não existe o que assim se faz,
meus sonhos seguiram sem rumo,
os dias passados não vejo mais.

Descansar ao lado de mim,
sofrendo pelos erros dos outros,
chorando pelos erros do mundo...
Aqueles olhos não eram tão perfeitos,
mas, eu não posso mudar tudo
assim fico mudo
a todo instante mudo,
de árvore,
de sonho,
de mim...


MINHA MORTE


Um imenso sono 
Caíu sobre mim 
Despertei em um sonho 
Em que respostas eram sim 
Vultos brilhantes desfilavam 
Num céu fulgurante 
E meu passado se escondia 
Num horizonte distante.


 

Estreitos laços entre nós
Mesmo íntimos
Não temos sigilo, somos sós
Separadamente dois sóis,
Que se olham entre estreitos,
Restritos, vãos de solidão.

Estreitos laços entre nós
Fazem-nos juntos
Juntos separados
Sob um invólucro de sentimentos
Todos passados
Vazios

Húmidos
Desgastados

Estreitos laços entre nós
Fazem-nos saber tudo do outro
Fazem-nos falar
Palavras restritas
Prontas pra sair, mas censuradas
Depois apagadas.

Estreitos laços entre nós
Nos torna infinitos próximos
Indigentes em afeto
Corpos magnetizados
Inertes
Impedidos de unir-se
Estreitos laços
Largos espaços
Deixam-nos sós.


1+1=2-1=0


Os dois se olharam
Mas só viu um
Os dois se amaram
Mas só um sentiu
Os dois.
Cada um.
Acha um que os dois são um
Pro outro não há um nem dois
Cada um é um
Mas um dia, um foi embora
O outro ficou
Um que ficou não acha na vida graça
Não ver nada da porta afora
O outro quem sabe ri com alguém
Mas hoje, um não é mais ninguém



VOCÊ SE FOI


Você se foi pra longe daqui
E me deixou, sem saber
Você não sabe, mas eu me sinto sozinho
Como se antes estivesse junto de te
E agora tivesse que esquecer
Você se foi
Nítida, límpida e pura.

Você se foi e eu não mais te verei
Pois era isso que me consolava
Ver-te.
Ver-te, foi o máximo que eu fiz
Passou o tempo e alguma coisa estranha
Algo que me prendia, que me segurava
Impediu-me de seguir, e eu não falei
Você se foi
Nítida, límpida e pura.

Agora só me resta o escuro de um quarto
Um quarto onde mora meus sonhos perdidos
E sufoca minhas decepções, minha amargura
Agora só me resta um triste quarto
Pois você se foi
Nítida, límpida e pura.
 


 DESEJO


Todas as frases daquela música
Agora me fazem melhor
Eu queria cantar pra você

Escrevo duas linhas tortas
As frases me dizem pra viver
Eu queria cantar pra você

Talvez um dia eu fosse feliz
Um dia antes do sol se pôr
Eu queria falar pra você

Ao som de uma canção de amor esquecida
Contigo ver a lua nascer, pálida e amiga
Eu queria falar pra você

Um rádio ao pé do ouvido,
Na noite, antes do sono
Uma bossa-nova que nunca ouvi
Faz-me lembrar
Que eu queria dizer que te amo.

  
NÃO LIGUE PRA MIM


Não ligue se eu chorar
O vazio em mim é grande
Mas a qualquer hora vai passar
A felicidade um dia chegou bem perto
A minha atenção foi pouca
Hoje ela está distante
Mas isso em mim vai passar.

Não ligue se eu não dormir
A vida é tão boa á noite
E sonhar acordado é melhor
No escuro que eu nem consigo me ver
Minha imaginação é maior
Assim faço a vida como quero.

Não ligue se eu não falar
Deixe-me sozinho em meu canto
As pessoas lá fora vivem a brigar
Você não sabe o que o silêncio me traz
Guarda minhas ilusões e meu pranto
Guarda-me em pura e verdadeira paz

Não ligue se eu chorar
É que alguém que vive longe
É minha metade
Não ligue se eu chorar
É que esse alguém não sabe.



 ÚLTIMO PEDAÇO


Cada flor que murcha e cai
Cada vez que a lua se esconde
Tênue atrás do horizonte
Cada passo seu, que te faz distante
É um pedaço de mim que se vai

Cada minuto que passa
Fazendo a noite chegar
Cada sonho perdido
E meu sorriso sem graça
É um pedaço de mim que se vai

Fico fazendo rabiscos
No chão de um sonho ruim
O vento apaga meus riscos
Minha esperança tem fim

Sonhei que você era flor
Que de pequena, no vento se foi
Restou a lua triste que me olhava
E em sua lívida luz me trazia dor
Foi o último pedaço de mim que acabou.


  ESQUECIDO


O sol nunca bateu na sua janela
Na frente do espelho você some
Reflete do seu peito um coração inóspito
Frágil e nebuloso
Onde nasce um córrego lívido

Que penetra no profundo íntimo
O escuro da noite é seu ópio
No escuro em frente ao espelho
Você chora
Nos seus olhos desemboca tímido
O lívido rio do seu íntimo
Eu vi você chorar
Por que passas a noite em pranto
Em frente ao espelho?
Talvez uma ilusão que devora
Que leva o sono pra outro lado
Um desejo de adormecer pra sempre
Ou uma lembrança ruim que não vai embora
Quem tú és?
Um ébrio que não se embriaga
O escuro da noite é seu ópio
Até onde a ilusão te levou?
Sua vida tá na parede pendurada
Uma descolorida aquarela
Todos foram embora
Até o sol não mais bateu na sua janela.



MEU DIA...     ...BONITO?


Um dia bonito.
Será que hoje é um dia bonito?
Será que não percebi isso?
Uma gota de chuva
Um pássaro
Um verde horizonte
Uma música no rádio
Meu grito

Um dia bonito
Amanhã será
A decepção de hoje
Não será mais insoluta
E passará
Um pássaro
Num belo horizonte
E me dirá
Que eu tinha dormido
E não vi o meu dia bonito.



POR TRÁS DO MEU SORRISO


O barulho das coisas ao redor
É insano
Os carros despedaçam-se
Nas ruas
Meu coração despedaça-se
Num canto
E pra que servem as flores á
Beira do caminho?
Ninguém não mais contempla-as,
Apenas a fumaça
Sem vida me parece a vida,
Sem cor
A timidez zomba de mim
Sarcástica
A solidão dos dias é infinita
Dor
Dor da certeza de que o próximo dia
Será igual

Não existe mais dias belo
Do sol
O céu é cinza e irrita nossa
Visão irreal

Tudo que vemos é mentira e
Já acabou
Atacaram uma cidade, mataram milhões
Disseram-nos que “era necessário”
Ela foi embora e nunca a toquei
Disseram-me que “era inevitável”
Alguém queria mudar o mundo
E tentou
Mas disseram que ele era uma ameaça
Mandaram-o ao calvário
Enquanto os carros despedaçam-se
Nas ruas
Minha alma esfacela-se

Atrás dos véus negros dos meus sonhos
Ouviu-se
Um último grito
Que sucumbio.
.

Um comentário:

  1. Pow cara, "Domingo" de fuder essa poesia. já me senti assim varias vezes, quando tava em pombal, era angustiante.

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