A sabedoria é implacável: “todos entram pela esquerda, mas governam pela direita.” Ou seja, muitos entram na “política” com discursos ao bem coletivo, mas quando governam são tendenciosos (comprados?) a satisfazer os interesses de uns e outros, e claro, os seus. E o pior é a farsa e a malandragem para entrarem no poder: através da exploração da miséria e da ignorância alheia! E para o seio rural, atualmente o discurso é um só: “Agricultura familiar blá, blá, blá...”. É notória das necessidades para essa gente! Os quais precisam de assistência, terra, investimentos... é inquestionável.
Mas a bem da verdade é que a grande maioria desses políticos que tanto bradam em defesa da agricultura familiar, principalmente na época das eleições, são os mesmos que pouco ou nada fazem por essa gente depois de eleitos. Não se enganem com as esmolas de um programa e outro! Esmolas sim, pois as políticas públicas, os recursos destinados, os programas do governo para a agricultura familiar não chega a um quarto dos investimentos do agronegócio. Enfim, são paliativos do tipo “cale a boca!” Isso porque a grande maioria desses ditos políticos defensores do pequeno agricultor, são ruralistas, grandes do agronegócio!
Na verdade não defendem, mas ludibriam o pequeno homem do campo com promessas, uns eventozinhos aqui, outros acolá... Onde quero chegar com isso é sobre a recente votação do novo Código Florestal.
Não se enganem com aqueles que votaram a favor da aprovação falando em defesa da agricultura familiar! O novo projeto, ao contrário, traz uma grande insegurança aos agricultores familiares. No estado do Rio Grande do Sul, (onde o agronegócio é forte, possui ótimas ótimas terras, rica na produção de grãos, forte na pecuária...) de todos os Deputados que votaram a favor da aprovação do Código, são oriundos do meio esquerdista, ou melhor, que sempre falam em agricultura familiar: dos 12, sete são do PT, dois do PDT, dois do PSB e uma do PCdoB, por exemplo. E esse novo Código Florestal não garante em nada benefícios para a agricultura familiar. Pois como diz o professor da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Sauer, “as mudanças na atual legislação ambiental causam insegurança alimentar e rompem as bases do uso socioambiental da terra.”
Bem, não sou contra aos partidos de esquerda, nem a favor dos do centro ou de direita. Até porque isso de fato não mais existe mesmo. A começar, eu também não sou de partido algum! Também não sou contra ao agronegócio, pois tem sua importância na economia do país, sim. O que ela precisa é ter suas técnicas atualizadas a essas instabilidades climáticas e ambientais; precisa ser uma aliada a segurança ambiental, e não fazerem dela um vilão, como estão fazendo. Até porque o negócio da agricultura ou agronegócio, como queiram, é nada mais do que um instrumento de trabalho e produção a serviço do homem. Cabe ao homem saber utilizá-la.
Minha defesa aqui é pelo ambiente natural protegido e sustentável; pela defesa de um Código realmente Florestal. E por administrações e decisões públicas corretas e responsáveis. E toda essa minha inquietação é pelo fato de ouvir desses hipócritas que a aprovação do novo Código Florestal é uma vitória para agricultura familiar!
É nessas e outras que agente descobre quem é quem na estória. Como dizem, são “lobos vestidos de cordeiros”. Mentem para os agricultores familiares e não medem as graves conseqüências desse novo Código Florestal atuante: um desastre ecológico!
O diretor da ONG SOS Mata Atlântica, Mauro Mantovani, disse que a aprovação é uma "tragédia anunciada" com impacto muito negativo às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. "Hoje 80% das terras estão nas mãos de menos de 20% dos proprietários rurais. São esses que querem anistia e fazer um cadastro irreal em prefeituras para continuar ocupando terras de forma irregular e tendo financiamento público”.
Portanto, não se enganem! Essas felicidades escancaradas da bancada ruralista a favor do novo Código Florestal aprovado é pela possibilidade dos ruralistas não terem a obrigação de recuperar o que desmataram; é pela redução das APPs aumentando assim suas fronteiras agrícolas; pela, praticamente, inexistência de Reserva Legal... e as conseqüências futuras dessas e outras mudanças são catastróficas: rios poluídos, assoreados, atividade imobiliária destruindo restingas, mangues; a aceleração do processo de desertificação da Caatinga; topos de morros deixando de ser APPs, (lembrem das lamentáveis mortes no Rio de Janeiro!). Além de outras reduções de APPs deixando de exercer suas funções ecológicas para sua manutenção e os serviços ambientais, tão preciosos e vitais a todos nós...
E mais desigualdades e mais misérias no campo, inclusive.
Desenvolvimento econômico e segurança ambiental é possível! Mas não serão alcançados com esse novo Código Florestal. Diga-se de passagem, um código reformulado sem embasamento técnico.
Agora nos resta o veto da Presidente Dilma, “pelo bem de todos e felicidade geral da nação”!
E como disse a ex-ministra Marina Silva, “não adianta vetar uns artigos e outros, é preciso vetar o Código por inteiro!” VETA, DILMA!
Por Dráuzio Correia Gama
Estudante de Eng. Florestal
Universidade Federal de Sergipe
drauziogama@hotmail.com
