segunda-feira, 11 de julho de 2011

POESIAS V: POR KADJON NASCIMENTO



CICLO

Uns juntam moedas,
Uns juntam almas,
Uns juntam amor...
Inexistente.

Uns juntam fé,
Uns juntam tempo,
Uns juntam trabalhos...
Cansáveis.

Uns juntam misérias,
Uns juntam realidade,
Uns juntam sarcasmo...
Doentio.

Uns juntam respeito,
Uns juntam máquinas,
Uns juntam laços...
Mortos.



O CORPO

Na areia, molhado de suor,
Pela mesma febre dos tempos.
Longe do luar, do portão,
Na distância de tudo.

Vagando ao sol,
No grito alheio, nas encruzilhadas.
Perambulando sem favor, nem dor.

Sem equilíbrio, sem libido.
Segue andarilho pelo sempre,
Aprendendo amar, também morrer.

Morre tão somente só,
Levando consigo nenhuma lembrança,
Deixando que o tempo esqueça
O que um dia foi o corpo.


 TARJA PRETA

Sem ninguém no carnaval,
Sem petróleo, nem sal.
Sem hospital, sem burguesia,
Sem freguesia, nem troco!

Sem mar no litoral,
Sem desejo, nem riso.
Sem estações, sem pão,
Sem armas, nem paz!

Sem vinho no ébrio hálito constante,
Sem dor, nem calor.
Sem droga, sem ioga,
Sem roupa, nem sexo!

Sem governo, sem pecado,
Sem estado, nem nação.
Sem ladrão, sem bandeira,
Sem célula, sem estrela.

Sem a língua do Einstein,
Sem o arco da aliança,
Sem esperança, nem Deus!


AOS PANÇAS MOLE

-Corre! Corre!
Estão chegando os subversores,
Trazendo em mãos bandeiras anarquistas,
Contemplando paz e justiça!

-Corre! Corre!
Eles visam morte ao capitalismo,
Seguem com punhos fechados,
Acreditando vencer o sistema!

-Corre! Corre!
São milhares e milhares...
Não estão para brincadeira!
Haverá revolução, é o fim da constituição!

-Mas, atenção!
Eles não querem sangue, nem apatia!
Buscam voluntariedade e progresso.
Uma nação de mãos dadas todos os dias.


  NUM OLHAR

Paisagens bêbadas dançam tango lunar,
Diante do frio estampado nas pupilas.
Num relento de brisas e paixões,
Desse olhar foragido... Sem nome, nem defeito.

Segue no olhar uma longa procissão,
Celebrando a cegueira do amanhecer,
Pintando no sol um triste luar,
Cultivando na terra um bem querer.

Dançam as paisagens, dançam as pupilas,
Tropeçando nos passos vagabundos,
Excitantes aos enganos da sobrevivência.

No delírio das doses desse meu veneno,
Desse meu tango lunar,
Visto no reflexo do teu olhar.

RAÍZES NO CONCRETO

Um ambiente de valores desiguais,
De antenas, fios e sinais
Encanta meu coração.

Vejo a correria dos meninos,
A impaciência dos homens,
A peleja dos terceiros...

Sinto medo de estragar esse mundinho perfeito,
De sair do firmamento
E voar nas asas do adeus.

POEIRA SECULAR

Escorre pelo câncer tecnológico,
No pranto das primaveras...
Inflamando idéias
Para a cura do universo.

Possui grande força humana,
Arriscando aos ratos uma máquina qualquer...
Triste século XXI!
Fechado para o balanço das máquinas.

Nessa poeira vou de ponga para lugar nenhum,
Por braços e abraços inventados,
Como um veneno solto no ar,
Matando saudades, pensamentos. 

Aqui reinventam pessoas e bichos.
Água... Só quando sai do nariz,
Como um giz, pintando as depressões,
Que enlouquecem cabeças e corações.


O SUJEITO E O LADRÃO
.
O sujeito vive apaixonado pelos cantos
Enquanto o ladrão rouba seus pensamentos.
Faz dos sonhos sua realidade doentia,
Cria no sorriso um idiota sem vida.
.
O sujeito corre atrás de seu lindo amor,
E o ladrão... Deixa ele correr.
Sabe que nunca chegará ao seu destino,
Sabe que o amor pertence ao seu jogo roubado.
.
Descem as lágrimas do sujeito,
Sua melancolia reflete com a luz do sol,
Tua cegueira leva-o aos cantos, como no início.
Por amor, morre isolado o sujeito!
.
Ri o ladrão, também enganado por si!
Sonhando com o mal espelhado em outrora.
Desesperado, vive noites insanas...
Procurando em sua cama um amor roubado.


SEGUNDA MÃO

Tanto sol...
O sofrimento caleja mais uma vez!
A alma nem sabe que destino tomar.
É apenas cansaço.

Descalço,  
Reza pela vida,
Ri como uma criança, sem dentes.
Nem chora, sabe quanto custa viver.

Sobrevive pelo suor, pela dor, 
Por terras abençoadas onde cultiva seu alimento,
Pelas águas que banham sua inexistência,
Na saúde insana e cansada.

Consegue fazer dinheiro...
Compra leite, carne e pão!
Tudo que consegue usar 
São calçados e roupas de segunda mão!


 BONEQUINHA DE PANO!

Sentada no troninho popular,
Vestida de vermelho vive a brincar
De terrorismo, de corrupção!

No peito uma estrelinha de solidão
Machuca os fracos... Nada demais!
São apenas os fracos.

Suas leis enlouquecem matas, corações!
Razões nas quais seus amiguinhos ladrões
Vão saindo da brincadeira.

Roubam a paz, saúde, investimentos sociais,
Sujam os jornais, sujam a bandeira, o horizonte...
No constante ego da demagogia.

Ela é uma bonequinha de pano!
Que brinca de Brasil, num azul anil,
Sem oportunidade, nem alegria.
...

Nenhum comentário:

Postar um comentário