segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

POESIAS SEÇÃO VIII

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A MANGUEIRA ( Lembrança dos 9 anos)

No caminho das garças,
À beira do córrego de esgoto,
Pertinho do Orfanato,
As mangas caíam e matavam a fome
Não só minha, mas, de toda a molecada.

Eram tardes inesquecíveis...
De pés descalços e dentes desbotados, 
Correndo atrás das pongas que encontrava,
Escondendo-se detrás da mangueira.

Sempre de barriga cheia e feliz,
Não sabia dos dias,
Mas, sempre ao acordar fazer a mesma coisa.
Era esse o combinado.

Alegro-me ao recordar da criação de rua,
Onde aprendi de perto que os bons existem,
É só uma questão humilde de enxergar a vida.
Trago no peito toda essa construção,
Toda essa simples lembrança.


CAI BALÃO!

Sobre a desgraça na terra,
Em meio às drogas e prostituição,
Nas lavouras não pode não!
Muita gente depende do plantar.

Sobrevoa pelas lindas matas,
Mostra teu fogo ardente aos diplomatas,
Na cidade ou numa gravata qualquer!

Não deixa os pássaros sem asas,
Nem os camponeses sem casas,
Por uma diversão vagabunda e sem fé!

Pára com esse voo incerto,
Faz das tuas cores uma barreira bem perto,
E pousa sem culpa na minha mão.
Cai balão! Cai balão!


EM pomBAR

Épocas... 
Cultura é cachaça!
Da vida póstuma posso até contar, porque sei.
Sou sobrevivente de pomBAR,
Sob o sol escaldante de poluíção, 
Em terra estrangeira de nós mesmos.
Na tribo há fome e não consigo dormir, 
Sambo meu rock de barriga vazia...
Bater tambor e fazer macumba é o meu carnaval.
O dia-a-dia é estranho em pomBAR, 
As plantações de sacos plásticos não são as mesmas,
Meus doentes morrem por segundos.
Não consigo dormir com tudo isso!
Foda-se os Coca-colas de plantão!
Querem estragar a aurora com esse perfume fedorento,                     
Admira-me a tamanho dessa sujeira...
Do álcool, da imundicie, dessas drogas!
E as bicharadas de partidos nojentos continuam hein?
Os males de pomBAR....


POR VOCÊ


Sou teu riso a brilhar nos meus sonhos,
Na distância de nós mesmos...
Quem sabe uma lembrança tua, e
Por mais que seja esquecida
Ainda manifesta-se em ti.
Sou um paradigma indignado com o errado,
Por não saber entender as diferenças.
Inimigo do tempo e amigo da consciência...
Com isso canto meu lirismo medieval,
Nessa imensidão de flores e amores,
Que busco somente em ti.
Jurei ao universo essa minha verdade,
Agora sou um pássaro que voa bem longe,
Observando tua beleza no descobrir da aurora.
Reinventando o amor de outrora...
Por você.

PARANÓIA III

O milho seco, a língua no umbigo,
A canção do Belchior, o dó sem ré menor,
As idéias do Dom Carmo, a calma dos mendigos,
O perigo da encruzilhada, outro lado da filosofia.

O cifrão leviano no gibis sem heróis,
Na mediana vontade, saciada por sede!
Nem o sangue, nem a tese, só fato...
O jornal ainda é de ontem.

A malícia, o lodo, alergia e lágrimas.
O amor de Maquiavel, EU NÃO SEI DE NADA!
O derrame no arame, a veia furada, pedra lascada,
O amor platônico do Álvares, não Cabral, Azevedo...

Azedo como nossos desejos,
Anseios e medos.
Reais pela imaginação
Na paranoia desse mundo cão!


CONCHA DAS MÃOS

Abraço-te,
Mordo, sujo,
Cuspo, desenho,
Reinvento.

Mapeio, 
Cavo, espelho,
Choro, rezo,
Espreguiço-me.

Fecho, abro,
Esqueço...

Kadjon Nascimento

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